A CULTURA DA MALVA: DESVELANDO SABERES PARA A SUSTENTABILIDADE E ENSINO DE CIÊNCIAS NO CONTEXTO AMAZÔNICO PARAENSE.

Rafael Cordeiro Rodrigues
Attico Inácio Chassot

Resumo
Este estudo são resultados inicias da pesquisa de mestrado e se tece com uma revisão da literatura na qual se busca descrever aspectos históricos e socioeconômicos da cultura de malva, e suas perspectivas para o futuro sustentável. O texto dá destaque a produção de malva (Urena lobata, L.) no contexto amazônico paraense. Foram realizadas buscas nos principais bancos de dados de pesquisas cientificas através dos descritores Malva Amazônica, Produção de Malva. Com estes descritores foi possível encontrar 37 trabalhos dos quais somente 9 foram selecionados. Estes estão dividido entre teses, trabalhos de conclusão de curso e artigos. A seleção de uma quantidade reduzida se justifica- pelo tipo de estudo que contemplasse as intenções da pesquisa. No que tange as fibras têxteis da malva tiveram uma participação expressiva na economia desde a década de 30 até os anos 80, do Século 20, servindo como fonte de renda para um significativo número de trabalhadores que participavam da cadeia que envolvia processos de exportação, contribuindo para a economia do país. Assim se pode perceber que esta cultura se torna uma importante tema de entrada para o ensino de ciências e para serem ressignificados, espera-se que este estudo possa subsidiar pesquisas e que contribua para intervenções e estudos futuros.
Palavras Chaves: Fibras Têxteis, Malva, Amazônia, 

INTRODUÇÃO 
A discutível evolução sustentável da sociedade provocou/provoca mudanças drásticas na qualidade de vida do Planeta. Estas mudanças ocorrem especialmente com apropriações de novas tecnologias. De maneira usual, novas tecnologias ocasionaram a produção de insumos que mesmo propostos como para o “bem-estar”, mas que na realidade. não raro, comprometem ‘a saúde do Planeta’.

O desenvolvimento tecnológico na atualidade caminha no sentido oposto daquele desejado. Nesse sentido pressupõe-se que ao longo do último meio século, as milenares fibras naturais foram sendo rapidamente substituídas por fibras artificiais de baixo custo. Assim, por exemplo, o acrílico, o náilon, o poliéster e o polipropileno assumiram o lugar e o papel das fibras renováveis.

Atualmente acelerou a busca de novos materiais, preferencialmente os de origem natural e sustentável. É crescente na sociedade o cuidado com o Planeta trazendo consigo uma perspectiva de melhoramento da qualidade de vida, que catalisa posturas para a (re)utilização e a (re)significação dos processos de produção de fibras e produtos de origem natural, valorizando as técnicas e o trabalho de agricultores.

Em meio a diversidade de espécies de plantas da Amazônia encontram-se muitas plantas que oferecem a possibilidade de extração de fibras, dentre as inúmeras plantas fibrosas da Amazônia evidenciamos e trazemos às discussões a malva (Urena lobata, linn), a malva foi uma das fibras que teve ascensão na indústria para a produção de diversos utensílios usuais no dia a dia.

Neste artigo pretendemos descrever a partir da bibliografia aspectos históricos e socioeconômicos de fibras de malva e suas perspectivas para o futuro sustentável, bem como evidenciar esta cultura como uma possibilidade para o ensino de ciências.

Encaminhamentos Metodológicos
Como aporte metodológico baseamos esta pesquisa na abordagem qualitativa da pesquisa (Minayo, 2001; Triviños, 1987), para o qual direcionamos a pesquisa por nos conduzir à discussão dos resultados em um viés mais amplo acerca das informações que buscamos explorar em diferentes abordagens. 

Trata-se de um estudo de revisão de narrativas apropriadas para discutir o estado da arte de um determinado assunto. É constituída por uma análise da literatura, sem estabelecer uma metodologia rigorosa e replicável em nível de reprodução de dados e respostas quantitativas para questões específicas, como explicitam Vosgerau e Romanowsk (2014).

Todo desenvolvimento da pesquisa seguiu critérios de busca e análise, inicialmente foi feito levantamento bibliográfico, no banco de teses e dissertações da Capes, Scielo e Google Acadêmico, para encontrar publicações disponíveis através dos descritores Malva Amazônica, Juta e Malva, Produção de Malva, através dos quais foi possível encontrar 9 trabalhos entre teses, trabalhos de conclusão de curso e artigo.

Revisão Bibliográfica
Os autores (HAGE, 2012; HOMMA, 2016; 1998; 1975, MARGEM 2013; SILVA 2013, SANTOS, 2018; SILVA, 1989, NETO e PADINI, 2006). Foram essenciais para que a partir de leituras exaustivas e reflexões passássemos a tecer discussões pertinentes.

Nesse contexto o uso de plantas fibrosas se desenvolveu e caminhou junto ao desenvolvimento das sociedades, constituindo o segundo grupo de plantas mais importante para o homem após as espécies alimentares, e uma das principais matérias-primas para o setor industrial (NETO e PADINI, 2006) 

As plantas fibrosas se adaptam perfeitamente as margens do rio de água doce. Estas plantas constituem uma grande parte da biodiversidade da Amazônia com enorme potencial de desenvolvimento têxtil, que há cerca de 6 mil anos já vem sendo explorada pelos os povos indígenas e consequentemente também pelos ribeirinhos que transitam entre rios e florestas (HAGE, 2012). 

A malva, segundo Homma (1995) malva (Urena lobata, L.), difundiu-se pelo continente europeu, africano e americano, nativa em solo amazônico e era tida popularmente como praga no nordeste do Estado do Pará.

Figura 2 – Plantação e colheita de malva.
Fonte: Ernesto de Souza, revista Globo Rural, 2020.

A malva pertence à família das malváceas, por suas características e por ser produzida em regiões temperadas e quentes e principalmente cultivadas em região de várzeas, seu período de vida é anual. 

E estas características foram fundamentais segundo os estudos de Margem (2013) para a produção em larga escala nos estados do Amazonas e do Pará na década de 30, do Século 20.

A malva é uma planta nativa da região amazônica, sua expansão para o Estado do Pará a em decorrência das estradas de ferro construída por volta de 1883-1908, em seguida no período de 1960 houve a indução ao plantio e comercialização das fibras da malva.

Na região amazônica a malva é conhecida vulgarmente como "malva carrapicho", encontrando-se em extrativismo três variedades com características diferenciadas, que são: malva foguete, malva ligeira e malva maxixe, (Albuquerque et al 1966, p.23).

Quanto aos aspectos botânicos dessa planta, Ferreira (2009), a descreve especificamente como espécies arbóreas, o lenho é leve, mole e fibroso, quanto aos aspectos das folhas são simples, geralmente dentadas, fundidas ou palmadas, quanto as flores são regulares, cálice lobado, corola com cinco pétala e por fim o fruto variável, predominando a cápsula. 

“A malva é uma fibra Liberiana ocorrendo entre a camada intermediária que envolve a medula central lenhosa do caule e a camada externa da casca. (MARGEM, 2013, p. 15)”.

A fibra de malva, faz parte da família das plantas fibras longas, a citar exemplos semelhantes como linho, juta, sisal e cânhamo. Em relação as demais fibras a malva apresenta alta resistência, sendo considerada três vezes superior à resistência do cânhamo, quatro vezes à do linho e oito vezes à do linho e oito vezes à do algodão (ZHAO-TIE, et al. 2007).

A expansão da produção de malva perdurou até os anos de 1980 quando:

No Nordeste Paraense, o plantio da malva deixou de ser uma atividade dependente de estoques extrativos, passando a acompanhar as áreas de fronteira agrícola, integrado ao conjunto de atividades desenvolvidas pelo pequeno produtor até o gradativo desaparecimento na década de 1980 (HOMMA, 2016, p. 93).

Dessa forma a produção da malva entra em declínio por diversos fatores, contributos também da crise da juta e do próprio mecanismo de transformações econômicas, sociais e políticas no Nordeste Paraense.

Nessa perspectiva é possível traçar alguns apontamentos elencados por Homa (2016) acerca do declínio na produção de malva: 

Desde quando foi suprimido o caráter de monopsônio e monopólio do mercado de fibras de juta, da CIA, pertencente aos japoneses, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, os capitalistas brasileiros tiveram a preocupação de pagar apenas o menor preço possível, tanto para a fibra de juta quanto para a de malva (HOMMA, 2016, p. 109).

Para além destes motivos infere-se que a baixa oferta no valor da fibra, os produtores se tornaram independentes diminuindo a mão de obra disponível para produção fazendo com que as indústrias e os japoneses abandonaram o cultivo da juta e malva na região Amazônica e no estado do Pará (HOMMA, 2016).

Assim por se tratar de uma cultura fortemente presente na região Amazônico Paraense, acordados com Brito (2005) que desenvolveu a metodologia de ensino ciências a partir de temas, é possível que a cultura de malva se constitua uma possibilidade para um tema gerador no ensino de ciências, que em breve serão explorados no viés pedagógico. 

Algumas considerações 
A produção de fibras têxteis no Brasil constituiu um divisor de águas para o setor agropecuário, no que tange a subsidiar as demandas de produtos proveniente das fibras vindas do exterior para exportação de produtos cultivados em terras brasileiras.

Desvelar e ressignificar esses saberes culturais que por tempos foram fontes de renda de famílias e que perduraram por tempos como atividade econômica, é trazer a luz da importância de preservá-los para que estes não corram riscos de extinção.

Traçar caminhos para a sustentabilidade através do ensino de ciências e conhecer possibilidades de (re)inserir as técnicas em risco de extinção na sociedade atual é tecer expectativas para um futuro promissor e responsável.

Portanto valorizar esses saberes que constituem nossas histórias a partir do ensino de ciências ressignificando esses saberes que fazem parte da memória de nossos ancestrais é abrir caminho para o conhecimento e dar vida as práticas e técnicas que se perderam no tempo. 

Referências 
BOGDAN, R. S.; BIKEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. 12.ed. Porto: Porto, 2003.

BRITO, Licurgo Peixoto de. Ensino de física através de temas: uma experiência de ensino na formação de professores de ciências. In: Anais do VII Congresso Norte/Nordeste de Educação em Ciências e Matemática. Belém-PA, 2004.

HAGE, F. Plantas Fibrosas da Amazônia: Matéria-prima para a inovação. 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA). 2012.

HOMMA, A.K.O. Estrutura de produção de malva no nordeste paraense. Belém, EMBRAPA-CPATU, 1980. 30p. (EMBRAPA-CPATU. Circular Técnica, 8).

HOMMA, A. K. O. (Ed.) Amazônia: meio ambiente e desenvolvimento agrícola. Belém/Pará: Embrapa, 1998. 386p.

HOMMA, Alfredo Kingo Oyama.A imigração japonesa na Amazônia : sua contribuição ao desenvolvimento agrícola / Alfredo Kingo Oyama Homma. – 2. ed. – Brasília, DF : Embrapa, 2016. 255 p.

MARGEM, Jean Igor. Estudo das características estruturais e propriedades de compósitos poliméricos reforçados com fibras de malva. Tese (Doutorado em Engenharia e Ciência dos Materiais) - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro– Campos dos Goytacazes. F 134. 2013.

MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes,2001.

NETO, Flamínio; PARDINI, Luiz Cláudio. Compósitos Estruturais: Ciência e Tecnologia. 1 ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2006.

SANTOS, Elber Norton de Souza. EM TORNO DA JUTICULTURA: Apontamentos sobre o sistema de aviamento na cadeia de produção da juta no Baixo Amazonas. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Universidade Federal do Oeste do Pará. 2018.

SILVA , Sandra Helena. Mulheres cultivadoras de juta e malva na região do Baixo-Amazonas. Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013;

MEDINA, J. C. Plantas Fibrosas da Flora Mundial. Campinas/SP, 1959.

Vosgerau, D. S. A. R. & Romanowski, J. P. (2014) Estudos de revisão: implicações conceituais e metodológicas. Revista de Diálogo Educacional, (14)41, 165-189.

Comentários

  1. Nos trabalhos pesquisados que você fez, existe alguma similaridade com a sua pesquisa?

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  2. Olá Edilene!

    Sobre seu questionamento, os referenciais elencados na pesquisa serão utilizados com base teórica quando for tratado do assunto específico. Quanto a similaridade não pois os textos são das áreas agrárias e a escrita e feita numa modalidade técnica, o que não se aproxima de pesquisas em ensino!!

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